Me largue seu milagre

Eu já vivi tantos milagres sem desconhecer nenhum, já senti tantos milagres sem reconhecer a ausência de um. Eu já fugi de ações sem olhar aceitações. Fui em busca de lábios a gosto de serpentes, farras a salivas pecadoras, corpos a derretimento de almas. Já fui um pecado em busca de milagre, e um condenado a busca de promessa. Condenados não buscam promessas! Eu já fui um sem coração, um calculista, um desonroso. Eu já feri almas e aguei corações, eu já menti palavras e me fiz passado. Eu mais que tudo, já fui inato.

Eu mais que tudo, me fiz um nada.

Eu não conheço milagres, suponho milagres. Aguentar milagres fingidos e se desarmar ao desconhecido, é mais do que indigno. Suportar teus choros e prantos é um milagre, silenciar teus gritos é um milagre, chorar tuas dores é um milagre. Limpar teus borros é um milagre, sentir teu corpo é um delicioso milagre, ter te perto é um milagre, conseguir-te é um milagre, alcançar o centímetro do seu coração é um revigorante milagre. Largar é um milagre, te largar, é mais ainda.

Me largue, largue esses milagres fugitivos do teu corpo. Largue o que largou seu milagre. Me largue. Largue o mal do meu centímetro, largue meu sentimento a míseros centímetros. Largue meu coração. Deixe esse meu sentimento sem ti, deixe esse sentir sair de mim. Sentido!

Parei firme ao precipício. – Sem ti, não há sentido. Sentir, sem mim, tem mais sentido.

Deixe-me a esses metros a sós, deixe-me ir desonroso e internar-me ao teu pranto, deixe meu mal alimento em pensamento.

Pare e não chegue perto! Fique com tua pura alma, deixe-me ir sem emoção, sem razão, sem sua oração. Eu não preciso do teu perdão. Tome. Cuide do que já foi designado ao amor, limpe os pecados que motivaram meu coração, jogue, se quiser, chute, se desejar, mas fique com minha razão. Duas razões em uma só mão. Você e meu coração.

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